quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Frei Betto: Dilma e a fé cristã

Reproduzo abaixo artigo de Frei Betto, publicado na coluna "Tendências/Debates" da Folha:

Conheço Dilma Rousseff desde criança. Éramos vizinhos na rua Major Lopes, em
Belo Horizonte. Ela e Thereza, minha irmã, foram amigas de adolescência. Anos
depois, nos encontramos no presídio Tiradentes, em São Paulo. Ex-aluna de
colégio religioso, dirigido por freiras de Sion, Dilma, no cárcere, participava
de orações e comentários do Evangelho. Nada tinha de "marxista ateia".

Nossos torturadores, sim, praticavam o ateísmo militante ao profanar, com
violência, os templos vivos de Deus: as vítimas levadas ao pau-de-arara, ao
choque elétrico, ao afogamento e à morte.

Em 2003, deu-se meu terceiro encontro com Dilma, em Brasília, nos dois anos em
que participei do governo Lula.

De nossa amizade, posso assegurar que não passa de campanha difamatória -
diria, terrorista - acusar Dilma Rousseff de "abortista" ou contrária aos
princípios evangélicos. Se um ou outro bispo critica Dilma, há que se lembrar
que, por ser bispo, ninguém é dono da verdade.

Nem tem o direito de julgar o foro íntimo do próximo. Dilma, como Lula,é pessoa
de fé cristã, formada na Igreja Católica. Na linha do que recomenda Jesus, ela e
Lula não saem por aí propalando, como fariseus, suas convicções religiosas.
Preferem comprovar, por suas atitudes, que "a árvore se conhece pelos frutos",
como acentua o Evangelho.

É na coerência de suas ações, na ética de procedimentos políticos e na dedicação
ao povo brasileiro que políticos como Dilma e Lula testemunham a fé que abraçam.
Sobre Lula, desde as greves do ABC, espalharam horrores: se eleito, tomaria as
mansões do Morumbi, em São Paulo; expropriaria fazendas e sítios produtivos;
implantaria o socialismo por decreto...

Passados quase oito anos, o que vemos? Um Brasil mais justo, com menos miséria e
mais distribuição de renda, sem criminalizar movimentos sociais ou privatizar o
patrimônio público, respeitado internacionalmente.

Até o segundo turno, nichos da oposição ao governo Lula haverão de ecoar
boataria e mentiras. Mas não podem alterar a essência de uma pessoa. Em tudo o
que Dilma realizou, falou ou escreveu, jamais se encontrará uma única linha
contrária ao conteúdo da fé cristã e aos princípios do Evangelho.

Certa vez indagaram a Jesus quem haveria de se salvar. Ele não respondeu que
seriam aqueles que vivem batendo no peito e proclamando o nome de Deus. Nem os
que vão à missa ou ao culto todos os domingos. Nem quem se julga dono da
doutrina cristã e se arvora em juiz de seus semelhantes.

A resposta de Jesus surpreendeu: "Eu tive fome e me destes de comer; tive sede e
me destes de beber; estive enfermo e me visitastes; oprimido, e me
libertastes..." (Mateus 25, 31-46). Jesus se colocou no lugar dos mais pobres e
frisou que a salvação está ao alcance de quem, por amor, busca saciar a fome dos
miseráveis, não se omite diante das opressões, procura assegurar a todos vida
digna e feliz.

Isso o governo Lula tem feito, segundo a opinião de 77% da população brasileira,
como demonstram as pesquisas. Com certeza, Dilma, se eleita presidente,
prosseguirá na mesma direção.

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