O que é meditação? É uma técnica que pode ser praticada? Um
esforço que você tem de fazer? Algo que a mente pode conseguir? NÃO.
Tudo o que a mente é capaz de fazer não pode ser meditação – ela é algo
além da mente, onde a mente é totalmente impotente.
A mente não pode penetrar na
meditação; onde a mente termina, a meditação começa. Isso tem de ser
lembrado, porque em nossa vida, o que quer que façamos, fazemos através
da mente; o que quer que consigamos, conseguimos através da mente. E
então, quando nos voltamos para dentro, começamos novamente a pensar em
termos de técnicas, métodos, atos, porque o todo da experiência da vida
nos mostra que tudo pode ser feito pela mente. Sim – exceto a meditação,
tudo pode ser feito pela mente.
Tudo é feito pela mente, exceto a
meditação. Porque a meditação não é um feito – é a sua natureza. Não
tem de ser conseguida; tem apenas de ser reconhecida, tem apenas de ser
recordada. Ela está aí esperando por você – é só você voltar-se para
dentro, e ela está disponível. Você a tem carregado sempre e sempre.
A meditação é a sua natureza intrínseca – ela é você, é o seu ser, não tem nada a ver com os seus atos.
Você não pode tê-la, nem pode não tê-la. Ela não pode ser possuída, ela não é uma coisa. Ela é você. Ela é o seu ser.
Meditação é estar alerta
O que quer que faça, faça-o em profundo estado de alerta; até mesmo as
pequenas coisas tornam-se sagradas. Assim, cozinhar ou limpar tornam-se
coisas sagradas, uma devoção. Não é uma questão de o que você está
fazendo, a questão é como você o está fazendo. Você pode limpar o chão
como um robô, uma coisa mecânica: você tem de limpa-lo, por isso o
limpa. Então, você perde algo belo. Então, você desperdiça esses
momentos apenas limpando o chão. Limpar o chão poderia ter sido uma
grande experiência; você a perdeu. O chão fica limpo, mas algo que
poderia ter acontecido em seu íntimo não aconteceu. Se você estivesse
consciente, não só o chão estaria limpo, mas você teria se sentido
purificado. Limpe o chão cheio de consciência, iluminado pela
consciência. Trabalhe, sente-se ou caminhe, mas uma coisa tem de ser um
contínuo fio condutor: faça cada vez mais e mais momentos da sua vida
iluminado pela consciência. Deixe a chama da consciência arder em cada
momento, em cada ato. O efeito cumulativo é o que é a Iluminação. O
efeito cumulativo, todos os momentos juntos, todas as pequenas chamas
juntas tornam-se uma grande Fonte de Luz.
Meditação é não fazer
Como meditar?
Resposta: Não é preciso perguntar como meditar, apenas pergunte como permanecer não-ocupado.
A meditação acontece espontaneamente.
Apenas pergunte como permanecer não-ocupado, isso é tudo. Este é todo o
truque da meditação: como permanecer não-ocupado. Então, você não pode
fazer nada. A meditação florescerá.
Quando você não está fazendo coisa alguma, a energia se move na direção
do centro, ela se assenta na direção do centro. Quando você está fazendo
alguma coisa, a energia se move para fora. O fazer é um modo de se ir
para fora. O não-fazer é um modo de se ir para dentro. A ocupação é uma
fuga. Você pode ler a Bíblia, pode tornar isso uma ocupação. Não há
diferença entre as ocupações religiosas e as ocupações seculares: todas
as ocupações são ocupações, e o ajudam a se manter agarrado do lado de
fora do seu ser. São desculpas para se permanecer do lado de fora.
O homem é ignorante e cego, e quer permanecer ignorante e cego, porque
olhar para dentro é como entrar num caos. E é assim mesmo: dentro, você
criou um caos. Você tem de encontrar esse caos e atravessa-lo. É preciso
coragem – coragem para ser você mesmo e coragem para voltar-se para
dentro. Não há nada que exija tanta coragem quanto isso – a coragem de
ser meditativo.
Mas as pessoas que estão comprometidas com o lado de fora – ocupadas com
coisas mundanas ou coisas não-mundanas, mas ocupadas do mesmo modo –
pensam ...e criam uma ilusão em torno disso.
Meditação é testemunhar
A meditação começa quando você se separa da mente e torna-se uma
testemunha. Esse é o único modo de você se separar de qualquer coisa. Se
você olha para a luz, naturalmente, uma coisa é certa: você não é a
luz, você é quem está olhando para ela. Se observa as flores, uma coisa é
certa: você não é a flor, é o observador.
Observar é a chave da meditação.
Observe a sua mente.
Não faça nada – nenhuma repetição de mantra, nem repetição do nome de
Deus – apenas observe o que quer que sua mente esteja fazendo. Não a
perturbe, não a evite, não a reprima; não faça coisa alguma. Seja apenas
um observador. O milagre de observar é a meditação. Enquanto você
observa, pouco a pouco, a mente se torna vazia de pensamentos; mas você
não está adormecendo, está se tornando mais alerta, mais consciente.
Quando a mente ficar totalmente vazia, toda a sua energia se tornará uma
Chama do Despertar. Essa Chama é o resultado da meditação. Então você
pode dizer que a meditação é um nome para a observação, o testemunhar, o
observar – sem qualquer julgamento, sem qualquer avaliação. Pela
observação você de imediato livra-se da mente ...
Se você quiser entender exatamente o que é a meditação, Gautama Buda é o
primeiro homem que lhe deu a definição certa e precisa: é testemunhar.
O que não é Meditação
. Uma coisa sisuda e triste: Quando falamos em meditar, geralmente logo
se imagina alguém muito sério, sisudo, sentado com as pernas cruzadas,
com as mãos sobre os joelhos, com os dedos formando círculos e,
frequentemente, repetindo sons que ninguém consegue entender. De
primeira, costuma-se fazer idéia de algo triste e monótono, praticado
por pessoas um tanto quanto alienadas, quando não meio malucas. E mais,
além de muitos construírem tal impressão, a maior parte das pessoas
sequer consegue se imaginar praticando algum tipo de meditação; nesse
momento, ouve-se muito a frase “Eu?!? Ficar assim, parado, sem fazer
nada? Só se me amarrarem!”. Na verdade, essa é uma falsa idéia, uma
impressão distorcida, em parte mesmo por culpa de alguns meditadores do
passado. Para meditar, não precisa se ficar triste, nem de “cara feia”;
ao contrário, pode ser um momento de grande alegria. E quanto a ficar
parado, é uma coisa que se aprende gradativamente, e nem sempre se
precisa começar assim. Além disso, não se deve confundir a tranqüilidade
com a tristeza. Isso seria como a atitude da criança, que vê o pai
cochilando gostosamente em uma rede, após um agradável almoço na varanda
de uma casa à beira da praia e julga tal atitude como alguma coisa
muito chata, parada e triste, da qual ela não consegue entender como
alguém pode gostar.
. Uma religião: As religiões orientais sugerem técnicas meditativas aos
seguidores, e isso acabou provocando um desvio de interpretação, no qual
se imagina que meditação e religião do Oriente são a mesma coisa. A
ligação entre tais correntes religiosas e a meditação é fácil de
entender. A nossa cultura, judaico-cristã, apesar de pregar um Deus
presente em todas as coisas, propõe uma oração para um Deus dual; e isso
é bem entendido quando falamos em “orar para Deus que está no Céu”, ou
seja, orar para Deus que está longe, nos Céus, separado e muito acima de
nós. Tal abordagem tem o mérito de fazer com que nos sintamos cientes
de que precisamos buscar o crescimento, e com isso diminui o inchaço
doentio do ego. Porém, também traz consigo a imagem de um Deus que está
fora de nós. Nas religiões orientais, ao contrário, prega-se a
existência de um Princípio Divino interno, que na verdade é a essência
de cada um de nós. Assim sendo, com uma Essência Divina, a busca de cada
um consiste em esplêndido instrumento. Esse posicionamento, sem dúvida,
induz à auto-observação, catalisando o crescimento individual, embora
também crie a tendência à internalização exagerada, isolamento e menor
troca social, o que também pode ser um retardo para o equilíbrio do
meditador. Assim sendo, as práticas meditativas não pertencem à esta ou
àquela cultura, ou à esta ou àquela religião, embora possam ter sido
disseminadas a partir de focos específicos. É possível meditar na
respiração com os budistas sem ser um budista; é possível meditar
caminhando com os vietnamitas sem ser um vietnamita; é possível meditar
girando com os sufis sem ser um sufi. Na verdade, mesmo em outras
comunidades muito antigas já se conheciam práticas meditativas, como
entre os índios americanos e os esquimós. O que ocorre, e frequentemente
causa confusão, é que algumas práticas foram criadas sobre princípios
de alguma tradição religiosa, que precisam ser explicados no momento de
ensiná-las. Vamos supor que você esteja em um curso de canto gregoriano,
por exemplo, e a peça que vai ser ensinada hoje é baseada no amor de
Maria pelo menino Jesus. É claro que o professor, para explicar a
interpretação que deverá ser dada pelo coro, terá que inserir a todos no
contexto em que a peça foi criada, e por isso começa a relatar como o
autor inspirou-se na amorosidade de Mãe Maria. Se alguém entrasse na
sala de canto neste momento, pensaria tratar-se de uma aula de religião,
porque a conversa poderia lembrar um sermão de igreja; porém, tanto o
professor quanto os alunos poderiam até ser ateus, pois o aprendizado da
prática não exige que se incorpore a crença religiosa. Para se meditar,
não é preciso pertencer a alguma religião específica. Não é preciso
deixar de pertencer a alguma religião específica. Não é preciso ter
religião.
. Uma filosofia: Como vimos acima, várias culturas já foram berços de
técnicas meditativas. Mesmo em tribos africanas e entre cristãos da
antiguidade, já foram detectadas práticas de meditação. Por isso, para
aprender a meditar, não é preciso preocupar-se em aprender princípios
filosóficos desta ou daquela cultura. Os orientais, por muito tempo,
pecaram por se comportar como um coração constantemente em diástole,
voltados para si, evitando o contato, o toque e a exposição dos
sentimentos. Enquanto isso, os ocidentais tendem a se comportar como um
coração em permanente sístole, voltados apenas para o exterior, para as
relações sociais e a exposição de idéias e sentimentos (mesmo que
falsos), evitando parar e olhar para dentro de si. Como vemos, o
equilíbrio não é ocidental ou oriental, e se buscamos o equilíbrio
através da meditação, devemos buscá-lo independentemente de valores
culturais. Um meditador não é “versado nisto ou aquilo”, mas sim alguém
que deseja viver a agradável aventura de experimentar as práticas
meditativas sem perder a capacidade de relacionar-se.
. Uma prática que exige mudanças: Nada é “exigido” a quem deseja
aprender a meditar. Não é necessário adotar uma religião e nem aprender
uma filosofia. Não é preciso ser esotérico, nem gostar de incensos e nem
usar roupas indianas. Não é preciso tornar-se sisudo, nem mudar a
postura social, nem deixar de sair à noite. Caso ocorra alguma mudança,
ela deverá acontecer “de dentro para fora” e será tão espontânea, tão
natural, que não poderá causar nenhuma sensação opressora em você.