Olá amigos.
Estou aqui na Venezuela há cerca de duas, e lamentavelmente
não posso deixar de perceber o medo e a
insegurança da classe hoteleira. Percebi
que cada vez que tirava uma foto da frente de um hotel em uma cidadezinha, o
responsável pelo local saía correndo e me pedia para não fotografar. Eu
explicava os motivos de estar fazendo isso, mas alguns pareciam não acreditar
em mim de imediato. Depois de mais explicações percebia que eles relaxavam.
Tive que deixar as fotos de lado. Um deles me falou que receava que fosse gente
do governo preparando terreno para em seguida desapropriar o hotel, como tem
acontecido em vários lugares da Venezuela. Percebi que os empresários da área
hoteleira da Venezuela estão em pânico.
Ao chegar em Puerto La Cruz, um dos melhores hotéis agora pertencia
ao governo. Fuilá e perguntei por hospedagem, pois com certeza os valores
seriam mais acessíveis, mas já na entrada fui informada que estava lotado, com desportistas
de uma competição nacional ligada à PDVSA (Empresa de petróleo da Venezuela). Pensei inclusive na grande soma que o governo
deveria ter desprendido para adquirir o hotel, mas ao conversar com um local,
este me disse que o governo não pagou pelo hotel, simplesmente o desapropriou.
Eu quase não acreditei no que ouvi. Ele também disse que este não era o único, havia outros quatro
grandes hotéis que tiveram o mesmo destino e hoje são administrados pela cadeia
Venetur do governo.
Visitei outro grande hotel de Puerto La Cruz que me disseram que também havia sido desapropriado
pelo governo. Ao chegar na recepção, a única senhora que estava atendendo parecia estar ligada na
tomada, e disse que não podia me dar as informações que eu necessitava. O hotel
Rasil estava com energia de casa mal assombrada, pelo menos foi a sensação que
tive quando entrei lá. Talvez fossem as luzes apagadas devido o racionamento de
luz que está acontecendo, ou... sei lá! Ao meu lado na recepção estava um
senhor que disse que há três dias ele aguardava para saber a disponibilidade do
salão de eventos. Ele disse que antes do governo assumir, a resposta era
imediata, mas agora parecia impossível pois esta senhora ficava sozinha, da
manhã até à noite, e não dava conta do serviço. Antes de sair a ouvi gritando
(parecia que ia ter um ataque) com um rapaz que parecia ser da manutenção. Ela
queria saber com quem ele estava falando ao celular... e porque ele não ia
fazer o que tinha que fazer. Eu confesso que nem quis entrar nos apartamentos.
Senti uma sensação estranha lá. O hotel não estava abandonado. Havia pessoas
passando lá, mas tudo parecia morto, sem vida, sem energias positivas, sem LUZ,
e o preço da hospedagem não estava tão diferente dos outros hotéis. Então
porque comprá-lo,digo,desapropriá-lo?
Se aquela senhora era
uma revolucionária, creio que a carga que ela estava carregando era muito
pesada para ela. E eu me perguntava, onde estavam os outros revolucionários
para ajudá-la nessa batalha mais prática? Acho que nem ela sabia. Creio que é
por isso que algumas pessoas passam de um extremo ideológico para outro.
Ao passar à noite pela orla marítima de Puerto La Cruz, alguns
homens que mais pareciam empresários estavam distribuindo panfletos com propaganda
de Chavez para a eleição de 7 de outubro desse ano ... E eu me perguntei onde
estava a garotada, o povão, que sempre fazia campanha para ele?
Cheguei na Ilha de Margarita e soube que vários hotéis da
ilha haviam sido desapropriados, inclusive o Hilton, que eu achava que havia
sido comprado.
Dentre os hotéis que visitei estava um que, em 2008 eu havia
alugado para levar uma caravana para promover o meu MAPA-GUIA, e o que vi me
deixou muito triste e com vontade de fazer o que estou fazendo: denunciar o que
está ocorrendo na Venezuela para que os brasileiros prestem mais atenção ao
país vizinho.
Simplesmente o hotel estava destruído. Portas e janelas quebradas.
Tudo abandonado, parecia um local pós-guerra. E o mais triste foi saber da história... O
jovem casal de colombianos que eu conheci, recorreu a um empréstimo do governo
para reformar o hotel. Pelo que vi lá, começaram a colocar porcelanato na recepção,
e aparentemente ia ficar tudo mais bonito do que já era. Entretanto, em 2009
ocorreu uma chuva muito forte que deixou vários desabrigados nas redondezas. O
Presidente Chaves simplesmente mandou a Guarda Nacional acompanhar cerca de 15 famílias até o hotel do casal e estes, sob comando do Presidente, obrigaram os proprietários a dar alojamento àquelas famílias. As outras famílias
desabrigadas se sentiram no direito de ter o mesmo tratamento e invadiram o
hotel também, que ficou abrigando 28 famílias, sem receber nada do governo.
O hotel era super bonito e tinha uma decoração de extremo bom gosto. Os donos haviam
começado uma reforma, mas de repente, com a chegada dos desabrigados, tiveram que parar tudo.
Segundo contam, o
dono do hotel, um jovem empreendedor que conheci, colocou uma corrente em si e na porta do
hotel, fechou com cadeado e disse que só iria sair depois que o governo tirasse
aquelas pessoas de lá e o ressarcisse de todo o prejuízo que estava tendo.
Conforme podem ver nas fotos, no muro do hotel está escrito: 28 famílias, 16
meses, dê casas a eles, e
“encadenado”. Dizem que foi um escândalo.
O rapaz fez greve de fome, e ao desmaiar, a polícia o tirou e o levou. Ninguém
mais soube dele. Já os desabrigados, ao
perceberem que teriam que sair mesmo, arrancaram portas, janelas e roubaram tudo o que havia no hotel. É uma história triste que todos devem
conhecer, pois acredito que qualquer ser pensante percebe que o rumo que a
civilização humana tomou não é o mais harmônico, saudável e justo, mas a forma
como esses ajustes devem ser feitos é mais importante do que a meta em si.
Depois desse hotel, eu já visitei outros 3 que foram desapropriados.Conversei com vários desabrigados que estão esperando suas casas e percebi que nem mesmo eles acham isso correto, pois até eles querem ter suas propriedades respeitadas. Outro dia me aproximei de um desses hoteis desapropriados, e os que ali estavam,ao me verem tirando fotos gritaram
para mim que já estava ocupado. Percebi que estavam achando que eu era do governo e que buscava um
lugar para alojar pessoas.
Visitei alguns locais destinados à construção de casas para
os desabrigados das chuvas de 2009 que só agora estão vendo suas
casas serem erguidas, com uma estrutura fácil
e rápida, de isopor, adotada pela construção civil há muitos anos no país e constatei que estão sendo erguidas por pessoas sem vínculo empregatício e nem contrato de trabalho. Os que já estão com as casas prontas e
morando nelas, estão sem água, sem luz e sem asfalto na rua há 3 meses Praia El Tirano). Dos 4 locais que visitei percebi terem no
máximo 25 casas cada um e me perguntei: Por que tanta demora para construir tão
poucas casas? E os desabrigados das avalanches de Miranda ocorridas em 1999?
Até 2007 quando saí da Venezuela ainda não tinham recebido ajuda do governo.
Ao assumir a presidência, o governo Chavez aparentemente quis diminuir o grande
desequilíbrio social que havia na Venezuela, mas o método utilizado por ele de afastar todos
aqueles que mostravam ser competentes, e a completa falta de planejamento e
administração do seu governo, tornaram esses 14 anos a prova inequívoca de que não foi dessa vez. Venezuela está simplesmente falida!
Eu, no lugar de Chavez, renunciava minha candidatura em prol
do candidato da unidade Henrique Capriles. O candidato Capriles é um jovem que já foi prefeito,
governador, e se acompanha de pessoas competentes, não de amigos e admiradores,
e por isso vai saber administrar bem o pais que precisa continuar com os
avanços sociais de forma inteligente e organizada, não mais da forma em que
está!
CHAVEZ TINHA A FACA E O QUEIJO NA MÃO, MAS PREFERIU CORTAR O DEDO!
HENRIQUE CAPRILES PARA PRESIDENTE! HAY UN CAMINO!
Umaia Ismail
Isla de Margarita- Nueva Esparta - Venezuela 18/07/2012