Thomas C. Heller: a nova ordem mundial é verde
O professor de Stanford, um dos principais consultores de política ambiental do mundo, diz que os países emergentes serão os líderes na transição para uma economia mais sustentável
Luís Guilherme Barrucho
Veja - 11/01/2012
Veja - 11/01/2012
As últimas tentativas de acordos internacionais em prol do meio ambiente, como o Protocolo de Kyoto e a rodada de Durban, fracassaram. O que falta para essas negociações começarem a dar resultados concretos?
Antes de mais nada, é preciso formar um consenso verdadeiro em torno da ideia de que não se pode mais subestimar o valor de uma política ambiental séria e consequente - se não por convicção, pelo menos por pragmatismo. Essa premissa deixou de ser uma afirmação típica de ambientalistas românticos há muito tempo. A interdependência entre economia e meio ambiente atingiu seu ápice. Prova disso é que o preço das commodities e da energia está em alta e deve continuar assim indefinidamente. O progresso, daqui por diante, depende de usarmos os recursos naturais da forma mais eficiente e produtiva possível. Parece óbvio que, na próxima etapa do desenvolvimento humano, ser verde será cada vez mais uma tremenda vantagem competitiva. Ainda assim, os governantes relutam em encarar a questão ambiental como aspecto fundamental da agenda econômica.
Por que isso ocorre? A grande maioria das nações ainda trata o dinheiro aplicado em sustentabilidade como investimento a fundo perdido, o que, claro, constitui um sério equívoco. Como seu retorno costuma ocorrer apenas a longo prazo, fica muito difícil convencer países em crise, como a maior parte das economias desenvolvidas hoje, a destinar grandes quantias a programas ambientais. Essa é uma das razões por que foram adiados, para 2015, o estabelecimento de metas de redução das emissões de dióxido de carbono e, para 2020, a criação do fundo verde de 100 bilhões de dólares. Esperava-se que tais resoluções fossem tomadas já. Mas muitos países relutaram em assumir o compromisso porque sabem que custará caro cumpri-lo. O que a maioria dos analistas não percebeu é que começou a desenhar-se, em Durban, uma nova ordem mundial, liderada por economias emergentes como Brasil, Índia e China.
De que nova ordem o senhor está falando? O parco avanço obtido em Durban só foi possível porque os emergentes capitanearam as negociações, aderiram às metas propostas e forçaram a assinatura de um acordo. Há sete anos, quando entrou em vigor o Protocolo de Kyoto, um protagonismo desses era improvável. Daqui para a frente, porém, será cada vez mais evidente, e por uma razão muito simples: os países em desenvolvimento terão de criar formas de elevar, e muito, a produtividade de sua economia, para suportar a inclusão de 3 bilhões de pessoas na classe média nos próximos vinte anos. Isso pressupõe criar mais políticas públicas de estímulo à sustentabilidade e investir maciçamente em inovação e em planejamento urbano - algo que os emergentes estão em condições de fazer, uma vez que não tiveram suas finanças corroídas pela crise global.
O senhor não está sendo otimista demais? Os novos integrantes da classe média vão querer consumir mais alimentos, combustíveis... Depende da forma como se encare a questão. De fato, há um enorme contingente de pessoas sedentas de consumo, que passarão de uma renda diária média de 10 a 15 dólares para algo como 50, até 100 dólares por dia.
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