Se a jornada espiritual é individual, qual a importância do relacionamento entre nós?
Transcrição de Prem Baba
Sri Prem Baba, iniciou sua atual jornada neste planeta em 1965. Nascido em São Paulo, no bairro Aclimação (onde vive hoje), foi batizado com o nome de Janderson Fernandes de Oliveira.Devido a intensas experiências espirituais para as quais não tinha explicação, Janderson era uma criança inquieta e trazia muitos questionamentos a respeito do sentido da vida. Sua avó (por quem foi criado) era cristã, e com isso iniciou sua vida espiritual no cristianismo, mas, desde cedo, desafiava a religião e o que diziam de acordo com a bíblia. Saiba mais : Perfil de Prem Baba
Mensagem de 17 de abril 2014
Pergunta: Amado Guruji, se a jornada espiritual é individual, qual a importância do diálogo? O que a humanidade precisa aprender para saber dialogar?
Prem Baba:
Essa questão nos traz alguns insights. Primeiro, nos leva a compreender a razão ou a meta da jornada evolutiva. A meta é a autorrealização. O objetivo do rio é se dissolver no oceano; a onda se dissolve no ar, ou ainda podemos dizer que o objetivo é encontrar a unidade dentro da multiplicidade. Somos muitos na superfície, mas por dentro somos a mesma vida.
É um princípio único. Esse princípio vital ou vida única, que podemos chamar de espírito, ele fala em todas as bocas; ele se expressa de diferentes maneiras através de cada um. Ele dá a chance para essa porção individualizada desse princípio único viver essa aventura, experienciar a individualidade e amadurecer através dessa experiência. Podemos encarar essa jornada evolutiva como uma aventura; uma aventura que nos permite conhecer a matéria, que nos permite conhecer essa tão complexa e misteriosa criação, que é o ego humano. Até que possamos realmente, através dessa aventura, dessa experiência, poder então, ir além dessa consciência individualizada.
Cada plano de existência tem regras, tem leis próprias.
Os planetas terrestres, astrais e celestiais, têm regras específicas. Então, uma manifestação da vida única, ao encarnar aqui nesse planeta através de uma matriz corpórea, ela é submetida às leis desse plano; e uma das leis desse plano é a dualidade.
Ao chegar aqui a percepção é coberta por um véu, o véu da dualidade. É ele que cria a ideia da individualidade, cria essa partícula que coexiste junto com o princípio único da vida – que chamamos de ego, e se sente um ‘eu’ separado do todo. O que sustenta o ego é a ideia de “eu” e de “meu”. E ao ter a percepção envolta por esse véu ilusório da própria vida em si, então o desafio é lançado, a aventura tem início, o jogo começa.
Alguns seres iluminados, que são seres que atingiram a meta da autorrealização, enxergam esse planeta Terra como uma prisão. Um deles, que eu tenho uma grande admiração, é o Nicarole Baba. Ele dizia que esse planeta é a prisão máxima da galáxia, um dos planetas mais densos das galáxias.
Eu prefiro ver esse planeta como uma escola, uma escola cuja matéria principal é amar de forma desinteressada. E para amar de forma desinteressada, você precisa aprender a perdoar e agradecer. E para perdoar e agradecer, você tem que aprender muitas outras coisas.
Esse aprendizado possibilita a evolução. Evoluímos do estado primitivo de ignorância e estupidez, onde estamos completamente identificados com o ego e com o véu da ilusão, completamente identificados com todos os mecanismos de defesa criados para sustentar essa identificação com o ego, estado que nos faz violentos, destrutivos. Então, evoluímos desse estado, que é praticamente demoníaco, para um estado humano. Primeiro evoluímos desse estado demoníaco para um estado humano. Nos tornamos humanos quando somos capazes de manifestar valores humanos.
Parece que o principal aspecto da humanidade é a capacidade de se doar, é a capacidade de criar união, de colocar o amor em movimento através dos dons e talentos. E do humano podemos evoluir para o estado divino, podemos, em algum momento, ser canais da perfeição divina, que é quando transcendemos a consciência humana e nos identificamos com a consciência crística, com a consciência búdica.
É quando reconhecemos a nossa natureza crística, a nossa natureza búdica; quando reconhecemos que somos esse princípio de vida única, por trás da ideia de que somos um nome, de que somos nossa história, de que somos um corpo, de que somos um ego. Ou seja, quando encontramos a unidade dentro da multiplicidade.
Então, é realmente um fato, um ensinamento que eu venho repetidamente transmitindo, que não é possível atingir a meta e desfrutar das alegrias do divino, sem antes passar pelas, também, alegrias – “mas também misérias” – do amor humano.
É verdade que a jornada espiritual é individual, é verdade que o rio se encontra com o oceano dentro de você mesmo, é verdade que o masculino e o feminino se encontram dentro de você mesmo, porém, o principal instrumento que nós temos para provocar essa união interior é o que chamamos de relacionamentos.
Portanto, eu afirmo que o maior desafio para o ser humano nesse atual estágio da sua jornada evolutiva é aprender a se relacionar de forma pacífica, a se relacionar de uma forma amorosa. Essa é a principal tarefa para o ser humano nesse atual estágio da sua jornada, criar união. O restante é acessório.
Todas as diversas práticas espirituais são acessórios, porque o principal sadhana é aprender a se relacionar sem se machucar, sem machucar a si mesmo, sem machucar o outro; esse é o desafio para a humanidade atual desse século XXI. E é a partir dessa sabedoria de se relacionar harmonicamente que a gente restabelece os valores sociais, é que a gente ressignifica a política, a economia, a educação, a relação com o meio ambiente, e todos os demais segmentos da vida. Isso é uma matemática muito básica. Você tem que ter o que oferecer, só uma pessoa feliz pode gerar felicidade, só uma pessoa que está em paz pode ser veículo dela.
E o que nós estamos vendo no mundo, essa crise global, esse colapso que estamos começando a experimentar, é apenas um reflexo, é apenas um desdobramento dessa nossa dificuldade interna de criar união. O externo é só reflexo do interno. Essa tão profunda identificação com o ego, que se manifesta na forma de um egoísmo muito arraigado, está gerando um estado psicótico na humanidade. Se fôssemos fazer um estudo sincero e objetivo da humanidade, ela facilmente se enquadraria dentro dos modelos das psicoses. Porque existe aí uma desconexão com a realidade; cada um vive seu mundo próprio, fazendo absolutamente de tudo para manter essa ideia de mundo e gerando mais e mais destruição.
Portanto, o principal sadhana, o principal desafio, é criar união, e o diálogo é um instrumento para se criar união. Na verdade, ele pode ser um instrumento para criar união. Precisamos compreender o poder da palavra.
Palavras são como pedras: elas constroem, edificam; mas também destroem, soterram, matam.
Através da palavra, do diálogo, você pode construir, pode criar união; mas através da palavra, do diálogo, você pode gerar guerra, gerar destruição e gerar morte. Se o principal desafio é criar união, então a humanidade precisa aprender a dialogar de uma forma não destrutiva, há que se aprender a dialogar de uma forma não violenta, há que se pulsar a inteligência disponível, há que se usar a consciência já disponível para se fazer um bom uso das palavras.
É dito que a palavra nasce da ponta da língua, onde existe um trono, onde deveria morar a deusa Saraswati, que é o aspecto da vida, o aspecto da Mãe universal, que se expressa como sabedoria. Suas palavras deveriam ser a própria expressão da Mãe universal, veículos de amor, de sabedoria, veículos de doçura; instrumento para criar paz, prosperidade, união. Mas, também é dito que, em dado momento da jornada, o demônio é quem tomou o trono e está sentado na ponta da língua. (Prem Baba canta: “Descobri que o demônio mora na ponta da língua, prometi que me calava para não mais morrer à mingua.”)
Então, se você percebe que está se destruindo e destruindo o outro através da sua palavra, é muito bom você calar a boca mesmo, é muito importante que você faça a austeridade, a tapasya, de ficar quieto. Coloca a língua no céu da boa e não tira para nada, só para comer quando precisar. Enquanto isso, repita os nomes de Deus, trabalhe para conectar sua mente com a divindade. Repita os nomes de Deus dentro de você, dentro, até que, vagarosamente, vá purificando a maldade que está na ponta da língua, até que você possa novamente permitir que Saraswati ocupe o trono. A palavra é um grande poder.
Porque, outra lei desse plano que vivemos é a lei do karma. A lei de ação e reação é uma lei inexorável, não tem como fugir dela se você está encarnado aqui; se está dentro de um corpo, você esta submetido a lei de ação e reação.
Você constrói aquilo que entende como realidade através de pensamentos, palavras e ações.
O pensamento se transforma em palavras, que se transforma em ação. A palavra em si já é uma ação, assim como o pensamento também é uma ação. São estágios diferentes do mesmo impulso. Aí, dependendo do estágio o impulso, vai ter uma reação X ou Y. A reação que você tem por conta do seu pensamento é uma, a reação que você tem por conta das palavras que você diz é outra coisa, é outro efeito. E uma ação propriamente dita é outro efeito. Mas são todas ações geradoras de karma.
Então, através das palavras você pode se enredar nas teias do karma. E como eu tenho dito, tem um karma que te libera e tem um karma que te aprisiona; e é claro que um diálogo violento, um uso indevido das palavras, gera um karma que te aprisiona.
Prem Baba
Este artigo tem sua continuidade amanha, dia 19 de abril 2015, com o nome de ” “
Fonte: http://www.sriprembaba.org/
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